domingo, 13 de dezembro de 2009

Fabricação de Mitos em Série

COMO SURGIU O NATAL

Por Zé da Cuia

Não sou nem pretendo ser o dono nem almejo o controle da verdade, todavia, não me conformo com a deformação dela, para melhor servir a interesses comerciais, ideológicos ou de qualquer outra natureza.

A dominante elite católica romana definiu o dia 25 de dezembro como a data do nascimento de Cristo, escolhendo essa data para comemorar o Natal; é desconhecida a data exata do nascimento de Cristo, mas, com absoluta certeza não foi em dezembro, muito menos no dia 25. A estrela Vésper que segundo a lenda teria guiado os Reis Magos não estava posicionada no céu, daquela maneira, naquela data. Aí o questionamento básico: Por que a escolha desta data? A razão é lógica, simples, e, estrategicamente baseada na metáfora “Quando não se pode com o inimigo alia-se a ele”. Numa situação desfavorável diante de um inimigo, ou nos unimos a ele, ou o absorvemos. Os teologistas alicerçantes do cristianismo, tiveram uma grande luta para impô-lo a agrupamentos civilizatórios que tinham suas próprias crenças, seus próprios costumes arraigados e faziam suas próprias festas; então, o macro empreendimento católico resolveu cristianizar as festas pagãs, como por exemplo, a do Solstício do Inverno, quando se festejava o nascimento do Deus-Sol Invencível (natalis invistis solis) e do deus persa Mitra, o Sol da Virtude. Os romanos celebravam as Saturnalias, dedicadas ao deus Saturno, quando se dançava e cantava nas vias com alegria contagiante e se trocavam presentes. Estes festejos iam de 17 a 22 de dezembro. Impossível não notar semelhança com o Natal (natividade) cristão instituído pelo papa Libério em 354.

Essencialmente o “Espírito Natalino” prega a alegria, a união, a aproximação, a reaproximação e o fortalecimento dos laços fraternos, num distorcimento da ideologia política proposta pelo Velho Jesus, e, da proposta mercantilista do Jesus contemporâneo.

Atualmente o Natal é apenas uma explosão comercial, e a institucionalização do 13º salário dos picaretas que falam em nome de um homem morto jazidos 2000 anos, massacrando e explorando a boa fé do povo ignorante.

“Cristãos de todos os paises, libertai-vos”

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ECO
Por Zé da Cuia

O conceito de inconsciente coletivo é sem dúvida o que de forma profunda une Jung à Mitologia. Os anos de estudo de mitologia o levaram ao conceito e ao seu principal conteúdo. O arquétipo. Jung debruçou-se sobre uma vastidão de materiais mitológicos e gnósticos, chegando a uma desorientação total. Desesperava-se quando tentava compreender o sentido dos psicóticos na clínica. Sentiu-se muitas vezes num asilo de alienados imaginários e começou o "tratamento" de analisar todos os deuses, ninfas, centauros..., do livro de Creuzer, como se fossem seus pacientes.
A maioria das noites como relata o próprio Jung em Memórias, Sonhos e Reflexões esteve mergulhado na história dos símbolos, i.e., na mitologia e na arqueologia onde se encontram fontes valiosas para a fundamentação filogenética da teoria da neurose...

Partindo Jung do estudo de Mitologia Comparada, de Religião Comparada, sendo mitos e religiões vistos como expressões espontâneas da psique humana, da observação de pacientes psicóticos, olhando para seus próprios sonhos (expressão do inconsciente) e sonhos de seus pacientes "normais", conclui que as imagens produzidas espontaneamente pela psique em sonhos, fantasias e mitos, são semelhantes em sua forma e estruturação e a partir daí postula a existência de uma camada psíquica igual a todos os homens, capaz de gerar imagens semelhantes, imagens típicas de seres humanos. Jung trabalhou em hospital psiquiátrico durante nove anos e o paciente psiquiátrico se caracteriza pela substituição do mundo da realidade pelo do inconsciente.

"Nossas opiniões, pensamentos e convicções são produtos de uma camada psíquica na qual se produzem os mitos. Esse estrato criador de mitos funciona como nossos sonhos........As imagens produzidas pela psique podem ser altamente pessoais, mas o drama em nosso palco interior costuma ser uma encenação do drama humano geral. Os artistas e os sábios sempre souberam disso. Nossos problemas particulares - nascimento, morte, relacionamentos, conflitos e a busca de significado - são problemas humanos. Quem estiver passando por um deles tem chance de perceber que essa experiência é uma versão de imagens grandiosas que simbolizam o modo como a humanidade sempre vivenciou esse problema. Jung chamou de arquétipos essas imagens atemporais. São dinamismos que fornecem padrões de comportamento, de emoção e de experiências pessoais que transcendem a história pessoal.......Pode-se considerar os mitos como sonhos coletivos e recorrentes da humanidade."

Essa ligação imensa entre a Psicologia Analítica e a Mitologia permite traçar um paralelo entre a personalidade mítica de Eco e alguns conceitos básicos de Jung; permite-nos olhar para a dinâmica do mito através de um olhar junguiano que naturalmente tende a dar espaço ao mito e ver a necessidade de compreendermos o mito até para que nos conheçamos.

Quanto ao mito, este refaz a história das origens, história sagrada. Se das origens, universal. Quanto mais primitivo, mais de todos. Já vimos alguma ou muitas vezes nossa imagem refletida nalguma superfície lisa algum dia e ficamos perturbados. Surge o questionamento quanto aos contornos refletidos: esses contornos são os nossos? Vemos outro ou vemos a nós mesmos? Por isso Narciso nos interessa, por isso é que ele é histórico.

Poderíamos dizer o mesmo de ECO... Quem não viveu um amor impossível? Um amor tão centrado no outro que justo por isso não pode ser amor? Quem não apenas ecoou palavras? Ficando sem identidade, ficando sem fala! Podemos dizer que Eco nos interessa que é historicamente psicológica.

O meio natural de chegarmos ao mito de ECO é através do mito de Narciso, que foi o seu grande amor. Há alguns autores junguianos que se dispuseram a falar sobre o mito de Narciso e Eco, entre eles: Murray Stein, Patricia Berry, Junito de Souza Brandão, Donaldo Schuler e Nathan Schwartz Salant. Como suporte dentro da Mitologia Grega e ensaios, em se tratando de Narciso e Eco, não poderia deixar de lado: Ovídio em "As Metamorfoses".

A versão mais completa de Narciso é a narração de Ovídio.

O mito de Narciso vem da antiguidade em muitas variações. A principal, e a mais detalhada, aparece nas Metamorfoses de Ovídio. Porém, em qualquer forma que apareça, esta é uma estória cujo principal tema é o amor e a paixão frustrada. Pertence às estórias de Eros, como uma das complicações dentro das complexidades do amor erótico."


* Narciso, Eco (por Ovídio):
Tirésias, cuja grande fama se espalhara pelas cidades da Aônia, dava respostas infalíveis às pessoas que o consultavam. A primeira a experimentar a veracidade de suas palavras foi a cerúlea Liriope, que outrora o Cefiso enlaçara nas curvas de seu curso, e, uma vez presa, a violentara. Belíssima, engravidou-se e deu à luz um filho, já então digno de ser amado pelas ninfas, a quem chamou Narciso. Consultando a seu respeito, se o menino viveria muito, se teria uma velhice prolongada, o adivinho respondeu: "Se não se conhecer". Por muito tempo as palavras do áugure pareceram destituídas de sentido. Mostraram seu acerto a maneira com que se desenrolaram os acontecimentos, o modo como morreu Narciso e a estranheza de sua loucura. O filho de Cefiso tinha, então, dezesseis anos, e podia ser tomado tanto por um menino como por um moço. Muitos jovens e muitas jovens o desejam, mas - tanta tão rude soberba acompanhava suas formas delicadas nenhum jovem, nenhuma jovem o tocara. Quando olhava os trêmulos veados apanhados nas redes, a ninfa de voz sonora, que não responde pelo silêncio a quem lhe fala, e nem fala em primeiro lugar, a ressonante Eco, o viu. Eco tinha, então, um corpo, não era voz apenas; no entanto, já era loquaz e usava da boca, como ainda hoje, para repetir a última de muitas palavras, como faz agora. Juno foi a causadora, pois, quando tinha oportunidade, muitas vezes, de surpreender ninfas deitadas na montanha com seu Júpiter, a esperta Eco a detinha, conversando muito, enquanto as ninfas fugiam. Percebendo tal coisa, disse a filha de Saturno: "Com essa língua, que tanto me fez ser iludida, pouco poderás fazer e terás um uso brevíssimo das palavras.” E executa a ameaça: quando alguém acaba de falar, Eco só pode repetir o que ouviu. Então, quando ela viu Narciso andando sem destino pelos campos, e se apaixonou, seguiu-lhe os passos furtivamente; quanto mais o segue, mais se aquece ao calor da chama, do mesmo modo que o inflamável enxofre, com que se reveste a extremidade das tochas, se queima ao aproximar-se do fogo. Quantas vezes ela quis aproximar-se, com palavras carinhosas, e dirigir-lhe ternas súplicas! Sua natureza a impede de falar em primeiro lugar. Permite-lhe, porém, e ela se dispõe a isso, esperar os sons e devolver-lhe as próprias palavras.

Por acaso, o adolescente, separado do grupo fiel de seus companheiros, perguntara: "Aqui não há alguém?" "Há alguém", respondera Eco. Ele se admira, e olha em torno. "Vem!", grita muito alto; Eco repete o convite. Ele olha para trás, e, não vendo ninguém aproximar-se, pergunta: "Por que foges de mim?" E ouve as mesmas palavras que dissera. Insiste, e, iludido pela voz que responde à sua, convida: "Vem para junto de mim, unamos-nos!" A nada Eco respondera com mais boa vontade: "Unamos-nos!" Ajunta o gesto à palavra e, saindo da floresta, avança para abraçar o desejado. Ele foge, e diz, ao fugir: "Afasta-te de mim, nada de abraços! Prefiro morrer, não me entrego a ti!" Eco repetiu somente: "Me entrego a ti!"

Desdenhada, esconde-se na floresta e protege com flores o rosto corado de vergonha, e, desde então, vive naquelas grutas isoladas. Seu amor, no entanto, é perseverante, e cresce com a amargura da recusa. As preocupações incansáveis consomem seu pobre corpo, a magreza lhe encolhe a pele, a própria essência do corpo se evapora no ar. Sobrevivem, no entanto, a voz e os ossos. A voz persiste; os ossos, dizem, assumiram o aspecto de pedra. Assim, ela se esconde nas florestas, e não é vista nas montanhas. É ouvida por todos; é o som que ainda vive nela.
Assim Narciso decepcionara Eco e outras ninfas nascidas nas águas e nos montes, e, antes delas, outros jovens. Despeitado, um deles ergueu as mãos para o céu, exclamando: "Que ele ame, por sua vez, e não possa possuir o objeto amado!" disse. A deusa de Ramnonte atendeu a essa justa prece.

Havia uma fonte de água muito pura, brilhante e prateada, da qual jamais haviam se aproximado os pastores nem as cabras que pastavam na montanha, nem qualquer outro gado, que jamais fora perturbada por qualquer ave, por qualquer animal selvagem, por qualquer ramo caído de uma árvore. Era rodeada pela grama, que chegava até junto da água, e a floresta impedia que o sol esquentasse o lugar. Ali, o adolescente, cansado pelo esforço da caça e pelo calor, estendeu-se no chão, atraído pelo aspecto do lugar e pela fonte. Mas, logo que procura saciar a sede, uma outra sede surge dentro dele. Enquanto bebe, arrebatado pela imagem de sua beleza que vê, apaixona-se por um reflexo sem substância, toma por corpo o que não passa de uma sombra. Fica extático diante de si mesmo, imóvel, o rosto parado, como se fosse uma estátua de mármore de Paros. Deitado no chão contempla dois astros, seus olhos, os cabelos dignos de Baco e de Apolo, o rosto imberbe, o pescoço ebúrneo, a linda boca e o rubor que cobre a cútis branca como a neve. Admira tudo, pelo que é admirado ele próprio. Deseja a si mesmo, em sua ignorância, e, louvando, é a si mesmo que louva. Inspira a paixão que sente, e, ao mesmo tempo, acende e arde. Quantas vezes beijou em vão a água enganosa! Quantas vezes, para abraçar o pescoço que via, mergulhou os braços na água, sem conseguir abraçar-se! Não sabe o que vê; mas o que vê o inflama, e o mesmo erro que ilude seus olhos lhe excita o desejo. Crédulo, o que consegues com esses vãos esforços? Não existe o que procuras. Afasta-te do que amas, e o verás desaparecer. Essa sombra que vês é o reflexo de tua imagem. Nada é por si mesma. Contigo, ela aparece e permanece; com tua partida desaparecerá, se tiveres a coragem de partires.

Nem os cuidados com a alimentação nem com o repouso, todavia, podem afastá-lo dali; estendido.

Na espessa relva, contempla, insaciável, a imagem mentirosa, e perde-se devido aos próprios olhos.

Erguendo-se um pouco, estende os braços para a floresta que o cerca. "Alguém, ó floresta, sentiu mais cruelmente o amor?", pergunta. “Vós os sabeis e, para muitos, fostes um oportuno refúgio”. Vós, cuja existência atravessou tantos séculos, lembrais, durante todo esse longo tempo, de alguém que tenha sofrido assim? Estou apaixonado, e vejo, mas não posso alcançar o que vejo e me seduz; a tal ponto erro como amante. E, para agravo de minha dor, não nos separa nem o mar imenso, nem a distância, nem montanhas, nem muralhas com portas fechadas, mas uma simples camada de água. Ele próprio aspira a ser possuído, pois cada vez que beijamos a água cristalina, ele procura atingir com a sua a minha boca. Dir-se-ia que podes tocá-la, tão pequeno é o obstáculo que nos impede de amarmos-nos. Seja quem fores, vem! Por que me enganas, jovem sem-par? Aonde vais quando te procuro? Certamente, não tenho uma aparência ou uma idade para te fazer fugir. As ninfas também me amaram. Em teu rosto amigo promete-mes não sei qual esperança, e quando te estendo os braços , estendes, por tua vez, os teus; quando sorrio, sorris; também muitas vezes vi correrem lágrimas dos teus olhos quando eu chorava; a uma inclinação de cabeça, respondias da mesma maneira; e, tanto quanto posso adivinhar pelos movimentos de tua linda boca, dizes-me palavras que não chegam aos meus ouvidos. Somos o mesmo! Não me iludo mais com a minha imagem. É por mim que ardo de paixão e sinto e ateio ao mesmo tempo esse fogo. Que fazer? Ser rogado ou rogar? E o que, de agora em diante, poderei rogar? O que desejo está comigo; a riqueza me faz pobre. Oh! Se eu pudesse separar-me do meu próprio corpo! Desejo desusado em um amante queria estar separado do que amo! E já o sofrimento abate o meu vigor, não me resta muito mais tempo a viver e me extingo na flor da idade. A morte não me assusta, pois com a morte aliviarei o sofrimento. Para aquele que amo desejaria vivesse mais. Agora, exalaremos juntos o último suspiro."

Disse, e, com a razão perturbada, voltou à mesma contemplação. As lágrimas turvaram as águas e, no lago agitado, a imagem se tornou indistinta. E, ao vê-la desfazer-se, ele gritou: "Para onde foges? Fica, não me abandones, cruel, eu que te amo! Que me seja permitido olhar o que não posso tocar e alimentar a minha triste loucura". Enquanto se lamenta, abre as vestes, desde o alto, e esmurra o peito nu com as mãos esculturais. Com as pancadas, o peito se tinge de vermelho, como acontece com as frutas, que, alvas em parte, em parte enrubescem, ou como, nos cachos variegados, a uva, ainda verde, se colore de púrpura. Quando o viu, na água cristalina de novo, não pôde suportar por mais tempo, mas, como costumam se derreter a loura cera ao leve calor do fogo ou o orvalho matinal ao morno sol, assim, esgotado pelo amor, ele definha, e um fogo secreto o consome, pouco a pouco. Agora, sua cútis já não oferece a alvura misturada ao rubor; nem restam o vigor e o ânimo que seduziam os seus olhos; nada resta do corpo que outrora Eco havia amado. Essa, ao ver tal coisa, embora ainda ressentida com o agravo, apiedou-se, e todas as vezes que o infortunado adolescente exclamava "Ai!", ela repetia "Ai!" Quando as mãos lhe esmurram os braços, ela repetiu com sua voz o ruído das pancadas. Foram as últimas palavras de Narciso com os olhos postos naquela água já tão conhecida: "Ah, querido em vão!", e o local devolve todas as palavras. E dizendo "Adeus!", responde Eco "Adeus!" Ele repousa na verde relva a cabeça fatigada, e a noite fechou-lhe os olhos cheios de admiração pelo dono. E mesmo depois de ter sido recebido no inferno, ainda se olhava na água do Estige. As náiades, suas irmãs, choraram em altas vozes e depositaram os seus cabelos no túmulo do irmão; choraram as dríades; Eco repete os seus lamentos, e elas já preparavam a pira, as tochas e o féretro. Em lugar do corpo, acharam uma flor dourada, rodeada de folhas brancas.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

“Homo homini venatu”

Opostos: Framenguistas X Flamenguistas
Por Zé da Cuia

Enquanto no primeiro domingo deste dezembro os framenguistas se divertiam matando uns aos outros, saqueando lojas e supermercados, e quebrando tudo que viam pela frente. Os flamenguista planejavam a venda dos jogadores a preços superfaturados pela conquista duvidosa do campeonato tupiniquim de futebol.

Vimos durante o certame inteiro os meios de comunicação convidando o povo a torcer por seus times de futebol. Presenciamos os mesmos meios de comunicação promovendo situações que aguçam a rivalidade entre as torcidas adversárias, para ao término do campeonato chamarem de selvageria o que aconteceu nas cidades de Curitiba e Rio de Janeiro.

Chamar de selvageria o que os framenguistas fizeram, é por em dúvida o nível intelectual dos “cara pálida”. Sabemos que na selva não acontece aquele tipo de massacre.

A barbárie promovida pelos framenguistas mostra o homem próximo do estado de natureza. Mas os primeiros hominídeos os Australopithecus matavam apenas para comer. Diferentemente dos Ardipithecus framengus que comumente habitam os presídios brasileiros, ainda hoje roubam e matam tão somente por diversão. Essa parece ser a conexão entre o Australopithecus e o Ardipithecus framengus como duas espécies diferentes. A diferença mais importante entre essas duas figuras da história do homem é a presença da razão no Australopithecus que biologicamente conseguiu evoluir.

A origem da guerra entre as torcidas e a guerra interna de uma torcida é a rivalidade insana do futebol. O chamado "povão" a parte menos racional da sociedade se envolve mais com futebol que com questões ligadas à evolução, desenvolvimento, progresso ou à família, por exemplo. O que fazer para estancar essa violência irracional? Uma partida de futebol é só uma partida de futebol. Infelizmente a "paixão" pelo esporte acaba acobertando verdadeiras escolas do crime.

Diz o filósofo inglês: “Homo homini lupus” (o homem é o lobo para outro homem). O que domina é a força bruta, o dinheiro, a fraude, a mentira, a calúnia, a devassidão e por aí em frente. A situação é momentosa e revela uma intrínseca crise de valores por que passa a massa contemporânea. A violência vai, gradativamente, consolidando-se como uma linguagem universal entre os jovens. Os meios de comunicação servem de instrumento para a articulação de encontros entre "gangues" de torcidas, que usam o futebol para canalizar suas energias, deflagrando cenas de revolta e brutalidade.

O vazio cultural também encontra ressonância nos jogadores profissionais de todo planeta, cujos hábitos e valores já não servem de exemplo como outrora. Ao valorizar a posse de bens materiais, a sociedade de consumo ajuda a pintar um quadro, no qual futebol, comércio e violência formam cada vez mais, partes de um todo de difícil separação.

A evolução precisa continuar, é preciso enfrentar o problema com pragmatismo, requerendo a intervenção direta do Estado e a mobilização social. Faz-se necessária uma revolução ética e moral nos procedimentos. Torna-se imprescindível um surto de honestidade nos dirigentes dos clubes e nos dirigentes dos organismos que controlam o futebol. Torna-se indispensável um surto de decência nos controladores da arbitragem e da imprensa. É preciso aplicar medidas políticas, jurídicas e administrativas que sejam viáveis para transpor essa triste página do esporte nacional.

Também não adianta implantar o Estatuto de Defesa do Torcedor (em vigência desde 2003) se o torcedor não tem educação. O Estatuto é falho, necessita de reforma, no sentido de criminalizar ações de vandalismo praticadas por falsos torcedores. Há torcidas organizadas funcionando como verdadeiras associações, com sede própria, estatuto, CNPJ e corpo diretivo. À primeira vista, nada de errado, pois são grupos legítimos com os quais o Estado deve dialogar. Entretanto, há casos em que dirigentes de times criam laços promíscuos, permitindo a franquia do ingresso pelas facções das torcidas organizadas, estabelecendo-se uma relação tipicamente comensal.

Dizem que o Brasil ta pronto pra organizar a Copa de 14, o Brasil precisa agir rápido. Há que promover a especialização de efetivos da polícia para atuar diretamente em ocorrências relacionadas a eventos esportivos. O Estado deve investir em recursos humanos e tecnológicos, como a implantação de um banco de dados informatizado, que reúna elementos úteis para uma ação de inteligência integrada por parte da polícia, Ministério Público e Poder Judiciário.

O combate à violência no futebol brasileiro só será eficaz quando o tema for inserido, de fato, no contexto macro da realidade nacional. Não adianta partir para a radicalização, pedindo a eliminação das torcidas organizadas. Isto atenta contra a democracia, já que representaria o fechamento de um espaço de convivência plural, que agrega cidadãos de diversas classes sociais.

Medidas enérgicas fazem-se prementes para frear o quadro tirânico e opressor reinante em nosso futebol. Ao mesmo tempo o Estado tem que se fazer presente na periferia, com campanhas sócio-educativas de inclusão social através do esporte lúdico, não somente fomentando a imprensa sensacionalista grande motivadora da violência no esporte.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

As Máscaras de Deus
Por Zé da Cuia
A totalidade do que vemos é o reflexo do que queremos ver. É tudo uma simbiose de espelhos... Espírito, sociedade, psique, história, mitologia. O universo é um grande labirinto de espelhos, e não dispomos do fio de lã de Ariadne. Nesse labirinto somos jogados e transformados diversas vezes, para no fim não passarmos de mais que uma imagem opaca de um reflexo distorcido, igual no princípio. E o jogo continua como se fossemos artistas numa grande arena imitando a vida...

A estrutura formada por sociedade e história com a proposição de formar o mundo externo não é mais que um reflexo da psique que pressupõe o mundo interno, as macro e micro dimensões, além da mitologia contém os símbolos representativos de um mundo e do outro.

Os primeiros contatos interno e externo de qualquer ser humano é com a mãe. A mãe é o nosso primeiro e grande amor, quiçá o único. É dela que nascemos, após um período natural determinado. É daquela figura gigantesca que percebemos as primeiras manifestações de carinho. É dela que recebemos o primeiro alimento, calor, aconchego, sorriso, amor... Essa figura é feminina e está sempre solícita a prover todas as nossas necessidades. É a deusa mãe.

Já num futuro breve momento surge a figura paterna. Ele também é gigantesco, e apresenta mais pujança que a mãe, também externa carinho, e, por sua robustez parece ser capaz de tudo, e saber de tudo. É o deus pai.

Esse deus pai e essa deusa mãe muitas vezes entram em rota de colisão. Muitas vezes deixamos de receber o carinho materno, porque a mãe tem que cuidar do pai. Édipo ficaria com raiva do pai, e em consequência sentiria medo, pois o pai é muito poderoso, capaz de destruí-lo. Sentimos culpa por amar e odiar o pai, ao mesmo tempo. Alimentamos o “complexo” para o resto da vida.

O estudioso de mitologia, Joseph Campbell, em seu livro “As máscaras de Deus”, relata como ao longo do tempo – lá na Antiguidade – foi ocorrendo uma inversão ao culto de divindades, da ordem do Matriarcado para o Patriarcado. A mitologia grega e a mitologia bíblica já constituem o período patriarcal, quando a divindade dominante é uma figura masculina, Zeus e Deus, e é característica a punição implacável, o medo, a culpa, o terror.

Um enorme seriado de imagens antigas, relacionadas à mitologia primitiva, pré-homérica, mostra uma divindade feminina ao lado de uma árvore contendo frutos, e uma serpente, e uma figura masculina que pode estar representada pela própria serpente. Essas imagens contêm um caráter idílico, como um jardim da inocência, sem qualquer conotação de culpa.

É daí que vem o combustível que alimenta o mito distorcido do paraíso de Adão e Eva. Uma árvore, o fruto proibido, a cobra tentadora, o pecado. Como se vê na cena bíblica – ordem do patriarcado – já está insuflada com a idéia de culpa. A própria imagem de Eva nascendo da costela de Adão demonstra a inversão patriarcal, dando proeminência ao homem. É imperativo que todos nós nascemos da mulher, assim como tudo nasce da mãe, e tudo que é mãe nasce da terra, por isso nas mitologias primitivas a Deusa Mãe era relacionada à Deusa Terra.

E assim seguimos sob os desígnios dos muitos deuses e deusas, e nos alimentamos do reflexo de muitos espelhos...