sexta-feira, 2 de março de 2012

Doutrina do Eterno Retorno
"Há homens que já nascem póstumos."

Por Cesar Negreiros


Desde o tempo da faculdade que os debates acadêmicos, ficavam circunscritos, ao filósofo alemão Frederico Nietzsche, considerado como um dos grandes expoentes do ateísmo contemporâneo.

Afinal de contas, as suas monumentais obras como "O anticristo", A gaia ciência, Genealogia da moral, Ecce Homo e Assim Falou Zaratustra, contribuíram sobremaneira para destronar as correntes filosóficas dominantes da Escolástica e o Neo/platonismo.

No decorrer do século XX, as faculdades de filosofia, tiveram que repensar os seus principais conceitos, que floresceram no ocidente. A divulgação destes ensaios filosóficos, em forma de pequenos aforismos lhe custaram um ódio visceral dos historiadores da filosofia medieval e dos religiosos cristãos, que nunca perdoaram o menino educado num lar luterano, por causa da publicação do polêmico livro que anunciava a "Morte de Deus", atropomorfizado pela cristandade.

Levado pela curiosidade folheei os tratados filosóficos deste eminente pensador alemão que depois de uma curta passagem pelo universo literário, passou o resto dos seus dias, confinado em um sanatório. Depois de me debruçar nas traduções portuguesas, tive uma compreensão mais ampla deste polêmico pensador herdeiro da tradição germânica, que ao filosofar com um martelo lançou a semente do movimento do neomodernismo, que predominou pelos séculos vindouros.

"Deus está morto, mas o seu cadáver permanece insepulto".

Conceito - Nietzsche concebeu esta idéia do eterno retorno durante um passeio matutino que fazia a um pequeno lago nos Alpes, na primavera de 1881. A comprovação é uma carta endereçada à irmã Elisabeth Förster Nietzsche, onde o pensador tece o seguinte comentário: "Meio-dia e eternidade"...

Mais adiante, ele arrematava: "O sol do conhecimento está de novo no zênite; e em redor está a serpente da eternidade na sua luz - é a vossa hora, vós irmãos do zênite".

O solitário filósofo contava o estado de arrebatamento depois que escreveu as primeiras linhas a lápis da obra, que mais tarde se chamaria: Assim, falava Zaratustra. Ele fazia questão de descrever que tinha sido assaltado por uma plêiade de pensamentos durante os passeios despreocupados às montanhas geladas.

Ao regressar ao seu modesto quarto, que tinha com cenário os Alpes Suíços, conta que transcrevia as idéias até meia noite, quando não tinha mais força, para redigir o próximo parágrafo.

Nietzsche confessava que na elaboração de "Gaia Ciência", já tinha prenunciado seu enigmático personagem conceitual, que seria chamado: Zaratustra. Dizia em outro trecho da carta: O incomparável estado de alma em que foi escrito Zaratustra - "Haverá alguém, no fim do século XIX, que tenha um conceito claro daquilo que os poetas do velho tempo chamavam inspiração? Caso não, quero descrevê-lo. Com uma nesga de superstição realmente apenas se poderia negar a idéia de existir somente encarnação instrumento, médium de forças prepotentes".

Traços do conceito de eterno retorno

"Antes, que sistematizasse o seu principal conceito filosófico, Friedrich Nietzsche foi acometido de um forte problema de saúde, que resultou na sua internação num sanatório", conta o filósofo Gilles Deleuze, no livro autoral Nietzsche e a filosofia.

O pensador francês salienta que o tema da doutrina do eterno retorno, é retratado de forma geral pelo pensador alemão, num trecho do aforismo "Da visão e do enigma e "O convalescente".

Deleuze fundamenta o seu argumento, no seguinte trecho da monumental obra, Assim falou Zaratustra: "Tudo o que é reto mente, murmurou, desdenhoso, o anão. Toda verdade é curva, o próprio tempo é um círculo... Folheando a obra, nos deparamos com outro trecho, em que o pensador alemão, diz: Ó Zaratustra, disseram então os animais, para os que pensam como nós as próprias coisas dançam: vêm e dão-se as mãos e riem e fogem - e voltam.

Tudo vai, tudo volta; eternamente vira a roda do ser. Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser. Tudo se separa, tudo volta a encontrar-se; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel do ser. Em cada instante começa o ser; em torno de cada aqui gravita a esfera do ali. O centro está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade"...

Não restam dúvidas, que os aforismos descritos no parágrafo anterior, são alegorias que linhas traçam o perfil da nova Raça - Raiz, que será gestada sobre a terra. Na primeira parte da monumental obra, o pensador alemão destaca Zaratustra, porém, olhava para o povo e se admirava. Depois falou assim: "O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem - uma corda sobre um abismo"...

Podemos constatar esta afirmativa, no livro "O nascimento da tragédia no espírito da música", quando no último parágrafo do aforismo três, Nietzsche admite que a "doutrina do eterno retorno, isto é, da translação incondicionada e infinitamente repetida de todas as coisas – essa doutrina de Zaratustra poderia, afinal, já ter sido ensinada também por Heráclito de Éfeso. Pelo menos o estoicismo, que herdou de Heráclito quase todas as suas representações fundamentais, tem vestígios dela".

Semelhanças

- O grande mestre da Escola Pré-Socrática, no entanto, sistematizou a sua ideia no vir a ser, com base na antiga tradição do Zaroastrismo, movimento de cunho religioso, que floresceu nos rincões do Vale do Eufrates.

Nos hinos religiosos que dão origem ao livro do Masdeísmo, nasce o mito de Zaratustra, que figura como o principal reformador religioso da era arcaica na Pérsia.

O texto mítico conta que Zaratustra vivia quase sempre isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Mas começou a sua missão aos 30 anos de idade, segundo os Masdeístas, teve muita dificuldade para converter as pessoas à sua nova religião. Em dez anos de pregação teve somente um crente: o seu primo.

Durante este período, o chamado de Zaratustra foi como uma voz no deserto. Ninguém o escutava. Ninguém o entendia. Depois de converter o rei Vishtaspa, a difusão dos seus ensinamentos contribuiu para promover uma grande reforma religiosa, para que o movimento do Masdeísmo chegasse a condição de religião oficial.

"Da escola de guerra da vida: o que não me mata, torna-me mais forte".

O zoroastrismo contava com os hinos, (gathas), que segundo a tradição antiga, tinha sido composto pelo próprio profeta Zaratustra. Este personagem mítico, apresenta muita similiridade o nietzscheano, conforme constamos, ao fazer uma comparação entre o presente e o passado.

Afinal, os biógrafos do grande filósofo alemão, destacam que o grande mestre, nutria uma grande paixão pelas canções do Rig - Veda e enaltecia os mestres da escola védica, que floresceu durante a era arcaica. Como estudante de filologia, conheceu o sânscrito, que figura como a língua - mãe, de todas as formas de linguagem que predominou na antiguidade.

Como profeta da nova era, Nietzsche sistematiza o conceito da doutrina dos ciclos, com base nos ensinamentos hindus, que afirma que "o universo evoluciona em ciclos, algo como emanações o n d u l a n t e s . Para os mestres vedas, cada ciclo surge como uma onda, que chega a seu ponto culminante, decai e se desfaz para ressurgir depois de algum tempo". Estas ondas surgem, desaparecem e voltam a surgir novamente, como sucede no universo das nações, que prosperam, declinam, voltam a prosperar e declinar, até desaparecerem, durante a era de ouro do hinduísmo.


Já no livro, "A filosofia na época trágica dos gregos", o polêmico pensador abre o texto destacando que os helênicos tinham aprendido os princípios da filosofia com outros povos mais antigos. Por isso, era, sem dúvida, um espetáculo curioso, quando colocavam lado a lado os pretensos mestres do Oriente e os possíveis alunos da Grécia e exibiam agora Zaroastro ao lado de Heráclito, os hindus ao lado dos eleatas, os egípcios ao lado de Empédocles, ou até mesmo Anaxágoras entre os judeus e Pitágoras entre os chineses.

."Aquilo que não me destrói fortalece-me"

Os mestres da era arcaica nos ensinam que a espécie humana perambula pelo planeta terra, há um milhão de anos, diante desta eternidade, somente nos resta concordar, que a doutrina do ciclo, sempre norteou a velha religião - sabedoria que deixou os pequenos fragmentos no bramanismo, no budismo, no zaroastrismo e no judaísmo.


Inspirado no estilo literário do aforismo oriental, o grande pensador alemão condensou as suas teses em pequenos textos concisos, que conquistaram a posterioridade.

"Sem música, a vida seria um erro."

Depois de mais de um século, o livro Assim Falou Zaratustra, ainda é de difícil compreensão, para os estudantes de filosofia, por contar com estilo literário impecável. Muito longe de ser considerado o simples pensador Friedrich Nietzsche, é o grande estilista da língua alemã, como o provaria, conforme as suas máximas: "Nascer póstumo" e "Deus Morreu". Afinal, a torre de Babel entrou para a história da humanidade, "porque ali o Senhor confundiu a língua de todos os habitantes da terra, antes todos os homens tinham uma só língua, e serviam-se das mesmas palavras, conforme a passagem do Velho Testamento, vestígios da Doutrina Sabedoria, que floresceu nos primórdios da raça Ariana. Acreditamos que estes fragmentos literários da era arcaica poderão nos dar as pistas, que precisamos para montar o quebra-cabeça da velha tradição antidiluviana e elucidar o grande enigma desta obra nietzscheana.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Homúnculos Ordinários

Por Magno Sousa

Homúnculos ordinários, quem és tu?
Para ser tão frio e tão calado...
Tu que não transbordas e nem frutificas...
Tuas raízes só chegam perto, e
Nem tão longe;
Tu que apenas é raso
E apenas isso...
Tu não te acordas...
Onde está você?
E onde estará você?
Se ao menos soubesses...
Homúnculos ordinários...
Não deixe que a pequenez de tua alma te engane...
E a largura de teus erros te resseque...
Batalhas foram travadas para ti...
Desperdiças tempo...
Tu deleitas-te com lixo e veneno...
Os teus olhos não compreendem a luz as minhas palavras...
Os teus ouvidos não ouvem o visual estupendo da realidade
Que te apresento...
As tuas narinas não saboreiam o sabor da vitória
Que é uma transformação...
O teu tato, homúnculos ordinários,
Apenas sente os fenômenos do engano,
Tu aceitas a agonia d desespero, envoltado de
Encanto e surpresas...

O que tens sido você homúnculos ordinários?
Uma lastima
Um apreço?
Vergonha?
Motivo?
Rizo?
Nada ou tudo?
Responda, para que a tua fala cale a minha...
O Grande Assassinato


Por Magno de Sousa
Dentre todos os assassinatos
O pior que acontece...
Sucede quando aqueles
Que assassinam a sua mente...
E afloram as raízes da tirania...
Criam regalias à oligarquia
E além do mais...
Utilizam o seu corpo...

Assassinato mental...
Destruição arbitral...
Deturpação de valores...
Deturpação moral...
Propiciarão e efetivação
Da escravização corporal...

Tiranização dos desejos...
Proliferação das paixões...
Amplitude da angústia
Vida em recequidão...

Olhos a lacrimejar lamúrias...
Corpos esboçando excitação...
Homens a coisificar o mundo
Homens a viver solidão.
Dizendo Sim

Por Magno Sousa

Há muito tempo o meu corpo só diz sim...
Sim para os deleites
Sim para as entregas
Sim para os calores e ardores...
Sim para, brutalidades e atrocidades irreparáveis.
Sim a ódio e rancores
Como a tantas vicissitudes infindáveis

Quem me ensina a viver?
Mil braços erguidos...

Quem me ensina a genuidade
e a ingenuidade?
Mil braços tolhidos!

Minha razão há tanto tempo só diz sim:
Sim à geometria
Sim ao combate à filodoxia...
Sim a homens fortes e esclarecidos
Sim, a também, a seres determinados, positivados e
Esquecidos...
Sim à harmonia e a ordem
Sim ao controle, vigilância e à desordem...
E doravante...
Sim à filosofia.
Explosões

Por Magno de Sousa

Namoro é entrega...
Paixão é dominação...
Paz é harmonia...
Ódio é fixação...

Prepotência é auto-enganação...
Amor é plenitude e
Permanência...
Luxúria é ambição desmedida...
Rizo é musicalização do
Eu interno...

Choro é espatifar-se...
Conversa é sintetização dos espíritos humanos...
E
Silêncio é a quietude da angústia...
Falência


Por Magno de Sousa


As instituições falharam...
Igreja, estado e escola...
O que realmente
Têm acontecido neste mundo?
Nunca mais vi o falso horizonte
Que me resguardava e...
Fazia-me tão feliz.
Por que as agonias das multidões moribundas
Não me machucam mais?
A corrupção que outrora, tanto perseguia e rechaçava.
Hoje já faz parte do meu ser...
Como posso amar aquele que destrói o meu sonho?
É tão fácil viver, e tão difícil pensar...
E tão fácil viver, e tão fácil se vender...
Só existem três tipos de sorriso:
O singelo sorriso proletário por tudo aquilo
Que é pouco e baixo...
O grito eufórico desta geração zumbi...
E as infindáveis gargalhadas burguesas...

O meu ar, ou o nosso ar, o ar.
Dos guerreiros resistentes e íntegros,
Os que ao menos desejam ardentemente o sopro vital da arte,
Criação, verdade e liberdade têm sido as...
Oportunidades de manifestar essa
Brutalidade...

Este é o apelo à mudança...
Mudar ao que se quer...
Transformar e jorrar...
Jorrar neste planeta não apenas flores hippies...
Não apenas psicodelismos fantásticos ou
Riffis fascinantes de guitarra...
Mas também...
Uma felicidade e vida que nos dê orgulho
De pertencer à raça humana.
A Arte de Morrer



Por Magno de Sousa


Eu quero ouvir musicas
Musicas a saborear...
Eu quero saborear vidas
E também a minha própria...
Quero deleitar-me em cânticos, versos, poemas e prosas...
Quanto a orgulhar-me sobre as magnitudes de meu epitáfio
Em relação a morrer
Se houve um ponto apenas que pude conhecer...
Morrer é desconectar...
Morrer é desindividualizare
Também propagar...
Dispersão de si mesmo...
E também, aos outros que a ti esperam...
Quantos aos infindáveis que contigo
Entrelaçar-se-ão...
Estar morto é encontrar-se em perplexidade e em vigilância...
Decorrida há dias...
Achar-se morto é...
Identificar-se às substâncias
Silenciosas e silenciadas da
Dinâmica transformativauniversal.
Morrer é um contínuo estado-acionário
Da desagregação e de desaglutinação
Dos átomos da vida.
Morrer é compreender que meus átomos permanecerão
Eternamente...
A
vagar...
A fabricar...
E a transformar, de forma
Combinatória...
As futuras e extraordinárias formas de expressão de vida...
Que se prontificarão ou não
Ao filosofar...