sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

As Máscaras de Deus
Por Zé da Cuia
A totalidade do que vemos é o reflexo do que queremos ver. É tudo uma simbiose de espelhos... Espírito, sociedade, psique, história, mitologia. O universo é um grande labirinto de espelhos, e não dispomos do fio de lã de Ariadne. Nesse labirinto somos jogados e transformados diversas vezes, para no fim não passarmos de mais que uma imagem opaca de um reflexo distorcido, igual no princípio. E o jogo continua como se fossemos artistas numa grande arena imitando a vida...

A estrutura formada por sociedade e história com a proposição de formar o mundo externo não é mais que um reflexo da psique que pressupõe o mundo interno, as macro e micro dimensões, além da mitologia contém os símbolos representativos de um mundo e do outro.

Os primeiros contatos interno e externo de qualquer ser humano é com a mãe. A mãe é o nosso primeiro e grande amor, quiçá o único. É dela que nascemos, após um período natural determinado. É daquela figura gigantesca que percebemos as primeiras manifestações de carinho. É dela que recebemos o primeiro alimento, calor, aconchego, sorriso, amor... Essa figura é feminina e está sempre solícita a prover todas as nossas necessidades. É a deusa mãe.

Já num futuro breve momento surge a figura paterna. Ele também é gigantesco, e apresenta mais pujança que a mãe, também externa carinho, e, por sua robustez parece ser capaz de tudo, e saber de tudo. É o deus pai.

Esse deus pai e essa deusa mãe muitas vezes entram em rota de colisão. Muitas vezes deixamos de receber o carinho materno, porque a mãe tem que cuidar do pai. Édipo ficaria com raiva do pai, e em consequência sentiria medo, pois o pai é muito poderoso, capaz de destruí-lo. Sentimos culpa por amar e odiar o pai, ao mesmo tempo. Alimentamos o “complexo” para o resto da vida.

O estudioso de mitologia, Joseph Campbell, em seu livro “As máscaras de Deus”, relata como ao longo do tempo – lá na Antiguidade – foi ocorrendo uma inversão ao culto de divindades, da ordem do Matriarcado para o Patriarcado. A mitologia grega e a mitologia bíblica já constituem o período patriarcal, quando a divindade dominante é uma figura masculina, Zeus e Deus, e é característica a punição implacável, o medo, a culpa, o terror.

Um enorme seriado de imagens antigas, relacionadas à mitologia primitiva, pré-homérica, mostra uma divindade feminina ao lado de uma árvore contendo frutos, e uma serpente, e uma figura masculina que pode estar representada pela própria serpente. Essas imagens contêm um caráter idílico, como um jardim da inocência, sem qualquer conotação de culpa.

É daí que vem o combustível que alimenta o mito distorcido do paraíso de Adão e Eva. Uma árvore, o fruto proibido, a cobra tentadora, o pecado. Como se vê na cena bíblica – ordem do patriarcado – já está insuflada com a idéia de culpa. A própria imagem de Eva nascendo da costela de Adão demonstra a inversão patriarcal, dando proeminência ao homem. É imperativo que todos nós nascemos da mulher, assim como tudo nasce da mãe, e tudo que é mãe nasce da terra, por isso nas mitologias primitivas a Deusa Mãe era relacionada à Deusa Terra.

E assim seguimos sob os desígnios dos muitos deuses e deusas, e nos alimentamos do reflexo de muitos espelhos...

Um comentário:

  1. Deus não tem máscaras, os máscarados são os homens que usam máscaras de cordeiros, e são lobos famintos e destruidores. Além de devorarem a si mesmo devoram o próximo e a natureza também.

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